domingo, 15 de maio de 2011

Novo Membro Novo Amigo!

Uma coisa que deixava Emanuel boquiaberto era a linguagem utilizada por Lua. Ela sabia algumas gírias que eram muito antigas, e naturalmente usava a linguagem com tamanha desenvoltura que parecia que tinha vivido aquela época.

_As tropas da Polícia Militar garantiam a segurança da população. Eram policiais do governo, pagos pelo governo para trabalhar para o povo. Se bem que algumas vezes era melhor chamar o ladrão do que a PM.
_Imagino, um bando de babacas doutrinados para matar!
_Não era assim também não, em muita coisa eles agiam de forma correta e segura.
_Então segura ele que eu não agüento sozinha. Este cara está pesado demais.

Emanuel assumiu o trabalho pesado e resolveu que era melhor ajudar Lua. Não adiantava tentar convencê-la, aquela ali quando punha alguma coisa na cabeça não havia cristão que conseguisse mudar a sua vontade.
Com muito esforço eles colocaram Atker encostado na pilastra. Ele tinha a face vermelha de tanta exposição ao Sol, em alguns pontos sua face escamava soltando pedaços de pele e deixando a carne viva a vista com as feridas soltando liquido linfático.
Lua começou carinhosamente a limpar a face de atker com um pequeno lenço de pano bordado que havia ganho de sua avó de criação. Ela nunca conhecera seus avós.
_Ele deve ter ficado muito tempo sem proteção e exposto aos raios solares coitado. Acho que isto o fez sentir mal e ele desmaiou.
_Não acho. Acredito que seja um viciado em Zirpam, olha a cara dele   !
_Pôxa Emanuel, como você pode ser tão mal? O rapaz tem cara de sério e eu sei muito bem quem ele é! Não tem nada disto que você está pensando, eu já o avistei várias vezes nesta região sozinho perambulando pelos esgotos. É gente nossa, tenho certeza. Ninguém fica horas observando a natureza com a expressão no rosto como a dele. Estas marcas na sua face foram feitas ontem quando ele ficou vários minutos observando o nascer do Sol na Serra.
_Há! Quer dizer que a menina já conhece ele né. Você mentiu pra mim, acha que eu sou bobo.
_Não menti não. Eu sabia que ele estava na área porque procurava raízes de mandioca quando avistei ele na serra. E eu não tenho que ficar te dando explicações.
_Eu sabia que tinha algo mais nesse caso, achei muito estranho você me pedir para te acompanhar. Você não é disso menina.
_Pare de me chamar de menina, eu já sou adulta!
_Com dez anos. É verdade que você tem mais experiência que as crianças da sua idade, mas também do jeito que você é!
_Que jeito que eu sou??
_Doida.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Quadrantes Estrelares.


Entraram na sala de reuniões e sentaram em lados opostos da mesa. O alto comando estava todo presente na sala.
Karpov começou a expor a situação do mercado. As tecnologias espaciais ainda não podiam transportar a água descoberta em outros quadrantes estrelares. Seria uma questão de meses para que se descobrissem novos métodos. As pesquisas avançavam rápido, mas não tinham certeza do aproveitamento prático da substância que chegava até os receptores. A água descoberta quando era infotransportada, modificava sua estrutura básica e se transformava em um produto estéril e inútil. Este não podia ser novamente convertido.
A reunião continuava com a exposição técnico detalhada feita por Karpov. Cristine não pensava em outra coisa senão o encontro com Ferbe, na Mina do Mauro. Aquela sala, antiga cheirava a bolor com pano de chão. A cara dos membros do alto comando, todos sérios olhando para Karpov, faziam com que seu estômago embrulhasse. Na parede os quadros eram de pessoas antigas ligadas ao movimento de dominação da Internacional e mantinham as molduras originais do século passado. Tudo contribuía para deixar Cristine enjoada, a mesa de reuniões era grande feita de jacarandá escuro, era imensa e toda encerada. Brilhava em alguns pontos refletindo as luminárias solares do teto e isto também irritava Cristine.

_ Está bem assim Cristine??

Cristine levou um grande susto! Era com ela que Karpov falava.

_ Você concorda com esta proposta Cristine, não é por acaso que você foi escolhida e trazida da França. Esperamos conseguir reverter a situação com a sua experiência.

Cristine estava voando e nem sabia o que Karpov estava falando. Ficou irritadíssima com o vexame, quase não conseguindo disfarçar seu descontentamento com a situação ridícula em que se encontrava na frente do alto comando da Internacional. Mas despistou bem e comentou algo sobre a Mina do Mauro e a possibilidade de trabalhar ao lado de Ferbe.
Deu certo, o assunto adiantado por Carlos na entrada da sala era o mesmo da reunião, só que Karpov havia dito muito mais. Ferbe passaria a receber ordens diretas de Cristine, que passaria para o comando da Mina. O local seria utilizado para novas experiências genéticas e toda a responsabilidade pelo projeto estaria sobre o seu comando, em outra situação Cristine estaria feliz, mas agora ela não sabia ao certo se era isto mesmo que ela pretendia. A responsabilidade parecia enorme e esta era uma ação de muito risco. Todas as outras ações de que Cristine participara antes tinham obtido sucesso, mas sempre que enfrentou os rebeldes e revolucionários eles estavam em  situações de desvantagem. Agora era pra valer, a situação nas Minas Gerais.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Cristine

Cristine não conseguia se controlar naquela manhã. Havia passado uma noite horrível no alojamento de sua amiga. Sua cabeça doía e sentia muitas cólicas, não entendia porque. Todas as vezes que se aproximava o seu ciclo menstrual ela mudava de comportamento. Era involuntário, seu corpo começava a se transformar, os seios duros e sensíveis, a vulva inchada e a cabeça meio oca. Mas a muitos anos ela não sentia esta dor de cabeça.

_ Parece que você vai ter um troço Cristine, seu rosto está pálido. Disse a moça da segurança
_ Eu não me senti bem a noite passada, mas não é nada não.
_ Olha, acho melhor você procurar o posto médico, deve ser algo que você ingeriu.
_ Pode ser!

Aquilo incomodava Cristine. Tinha reunião às 9:00h e já estava atrasada.
Na entrada da sala de reuniões estavam dois representantes da Internacional HS (Hemisfério Sul), quando viram Cristine, avançaram.

                     _ Cristine!

Carlos já conhecia Cristine do encontro na França.

                     _ Como vai Carlos? Respondeu Cristine tentando ser simpática
          _ Precisamos conversar, já conhece o Luiz? Ele é responsável pelo setor de novas tecnologias.
          _ Prazer Luiz. Como andam as pesquisas com o Zertron?

Luiz parou assustado. Mas Carlos explicou calmamente.

          _ Cristine tem acesso as informações do comando, pertence ao quadro de segurança máxima e está em missão. Por isto sabe do desenvolvimento do Zertron.

Luiz continuou com sua expressão de surpresa. Como ela poderia falar tão segura de um projeto tão sigiloso como o Zertron. Mas apesar de surpreso continuou a conversa como se fosse natural.

          _ Tivemos alguns avanços, mas falta um elemento básico.
          _ Tudo bem, interrompeu Carlos, depois vocês conversam sobre as novidades, vamos direto ao assunto. Cristine você vai ser enviada para o campo, Mina do Mauro, os rebeldes estão conseguindo alguns avanços preocupantes. Parece que descobriram um meio de retirar a água das minas. A vazão da mina diminuiu muito no último mês e Ferbe acha que estão desviando o lençol de água. Algumas patrulhas realizaram buscas na região e encontraram vestígios de perfurações.
          _ Como eles conseguiriam permanecer em exposição para trabalhar com a sondagem e a perfuração?
          _ Não sabemos! Ferbe acredita em mutação. Acha que alguns nativos estão desenvolvendo uma capacidade de exposição aos raios. Já não são afetados como nós e podem passar longos períodos expostos sem sofrerem danos!
          _ Parece interessante.

Cristine sabia que aquela era a sua oportunidade de estar ao lado do posto mais importante da Internacional, a Mina do Mauro. Não perderia aquela oportunidade de jeito nenhum e a proposta a deixou tão entusiasmada que até as dores que sentia sumiram. Estava agora se sentindo bem e já planejava como seria a sua estratégia para o trabalho junto a Ferbe.

sábado, 30 de abril de 2011

Planeta Medo

Na América do Sul a base de maior importância ficava na cidade litorânea de Petrópolis. Era uma construção imensa, o prédio de 30 andares abrigava várias repartições da Internacional. Possuía um centro de comunicação global e podia estabelecer contato inclusive com bases lunares. Os alojamentos eram subterrâneos e tinham capacidade de abrigar até 2000 homens de prontidão. Os funcionários vinham de várias partes do mundo, algumas mulheres que pertenciam à organização eram férteis, mas seus líderes guardavam estas mulheres como escolhidas para uma futura procriação particular. Cristine não era uma destas. Havia chegado ao continente após relevantes trabalhos prestados na antiga região francesa de Lion. O local havia estado sob intervenção e muitos problemas foram causados pelos franceses, que não cederam frente a imposição das regras da Internacional. Cristine tinha grande experiência na negociação e conseguiu um acordo de rendição do grupo francês rebelde. Todos foram detidos e foi aberto um processo pela Junta de Reconstrução do Planeta Terra.
Existia uma espécie de tribunal mundial, aonde eram discutidos os direitos e soberanias. Tudo apenas de fachada, seus membros eram corruptos e alguns que resolveram, no início do processo, denunciar as fraudes, foram mortos, executados.
                     Para Cristine nada disto importava, queria se estabelecer forte junto ao alto comando da Internacional. Desejava assumir um posto no alto comando e poder colocar em prática todas as suas teorias sobre a dominação efetiva. Sabia dos problemas enfrentados nos vales das Geraes. Tinha que obter a posse das fontes de água natura da região para poder elevar o valor do produto exportado. A qualidade da água das Geraes era única no mundo. Alguns estudos apontavam para as características minerais que somente podiam ser obtidas em Minas. Era portanto fundamental a sua relação com o líder dos contra revolucionários, Ferbe.
Ferbe era um homem forte e corajoso. Seus cabelos loiros e os olhos verdes impressionavam a todos, homens e mulheres. A face rosada mostrava algumas rugas do excesso de exposição aos raios solares, seu corpo era moldado a base de exercícios incansáveis. Tinha como hábito correr longos trajetos e pedalar algumas horas seguidas. Gostava de seu corpo e cultivava hábitos saudáveis. Vivia próximo a mina mais pura das Geraes e desfrutava da água natura de melhor qualidade do mundo, e sabia disto. Profundo conhecedor das técnicas de combate e guerrilha, havia sido escolhido para o comando dos contra por sua dura atuação em outras disputas contra os revolucionários. O local era considerado como área de conflito, porque os combates eram constantes e os rebeldes não podiam ser controlados. Era a única região no planeta, aonde ainda acontecia alguma resistência. Justamente por isto Ferbe fora escolhido.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Mal-estar Súbito.

Caminhou bastante por baixo da terra. O local era fresco e em alguns pontos era invadido por raios solares que derramavam sua intensa luz pelas frestas abertas no antigo asfalto das ruas lá em cima. Durante sua caminhada submersa, Atker ia observando os vários quadrados abertos nas laterais do canal, que serviam como escoamento. Era por estes quadrados que corriam em direção ao canal todos os dejetos e esgotos dos prédios. Uma vez Atker entrou por um destes e chegou até um local sem luz e sem saída. Pensara na época que aquele local poderia vir a ser usado como esconderijo e passou a colocar alí suas reservas. Tinha de tudo escondido no local, Atker acreditava que inclusive os sinais e ondas de calor não poderiam ser detectados pelos sinais de satélite.
             De repente Atker parou assustado! Sua face se transformou e seu rosto assumiu uma expressão de dor. Ele levou a mão na altura do estômago, tentou segurar forte tentando conter a dor, e a ultima coisa que pode ver, foram os quadrados nas paredes laterais desaparecendo em meio a uma imagem embaçada.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Subterrâneo sinistro


Logo na entrada dos canais, Atker parou e tentou perceber se realmente estava sendo seguido. Não percebeu nenhuma movimentação estranha e desceu por um grande buraco quebrado no concreto e asfalto da rua. Aqueles canais pareciam mais um grande labirinto. A água que provavelmente corria por aquelas galerias antigamente, não passavam mais por ali a muitos anos. Para Atker não era problema caminhar horas embaixo da terra pelas vias do canal. Conhecia muito bem toda a malha de escoamento e até gostava de caminhar pelos canais. Era o local em que se sentia mais seguro. Mas aquela estranha sensação continuava a intriga-lo.
             A galeria estava escura e tinha uma temperatura agradável. Sabia muito bem como era gostoso se abrigar do sol naquelas galerias subterrâneas. Tinha aprendido com sua avó a se refugiar naquele local desde que era criança e muitas vezes se alimentou junto com a família e companheiros naqueles canais.
             Dentro da galeria o silêncio era imponente. Todo barulho, por menor que fosse, tinha uma reverberação muito forte. O eco era impressionante, por isto mesmo Atker se apressou alguns passos e se deteve um pouco para ouvir se alguma coisa o seguia. Ficou parado imóvel próximo a junção de dois canais, assim seria mais fácil fugir caso algo estranho acontecesse. Do local aonde estava, era possível ver a entrada do canal com seus entulhos e pedaços de asfalto quedrados. A luz do sol invadia parte da galeria traçando uma linha fina de contraste entre o escuro e o claro. Após ficar ali por alguns minutos, Atker resolver continuar seguindo pelos canais até um local seguro.
             Naqueles dias a sobrevivência dependia do conhecimento e da experiência de cada um. Todos os seus amigos já haviam se mudado junto com suas famílias para locais seguros, ou grutas afastadas. Alguns mais temerosos se apresentaram às tropas governamentais na esperança de serem poupados, contudo se soube mais tarde, que vários haviam sido capturados pelos Skings e dissimados. A vida era difícil neste planeta inóspito.
             A alimentação também dependia da experiência. Alguns tipos de batata ainda podiam ser cultivados, mas a mandioca era o seu alimento principal. Toda a energia da planta era aproveitada. Na antiga região montanhosa de Nova Lima, podia se encontrar grandes áreas nativas aonde a mandioca se espalhava. Era só arrancar a raiz e preparar as folhas. Sua avó havia lhe ensinado como preparar cada pedaço da planta. Era preciso atenção pois algumas espécies eram venenosas. O bijú feito com a planta era delicioso e podia ser estocado por vários meses. Era justamente este bijú milagroso que Atker desejava saborear tranqüilamente naquele canal.